quinta-feira, 16 de abril de 2020

mortes


(em memória da Isabel Costa)


usamos chorar a morte
de outros mas
é de nós que choramos
é da morte do lado de cá.

do rasgão que sentimos
na pele do soco que apanhamos
no estômago da ferida que lambemos
e demora a sarar

mas aquela morte que
surge insidiosa no interior
de quem sofre que afinal
suplica faz depressa o teu trabalho
ou a outra que não avisa e
ataca de supetão um corpo jovem
na quebra de uma onda
aquela que cada um sente
dentro de si, íntima, ignorada
dos humanos seres
aquela que afinal desconhecemos
é bem-vinda tantas vezes
outras insuspeita

essa morte do lado de lá
que não sabemos chorar
essa morte que apenas
os poetas aproximam
num verso que seja

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