sábado, 16 de maio de 2020

"Amiga é casa"





 (em memória da Zita Magalhães)

 

Esta é a casa

que me tem cativa

porque nela vivi

já não quer que viva.

                                               

Eu nunca vi paredes

Tão de branco vestidas

Nem um chão de

Tão suave pintura.

Aqui encontrei palavras

Dobradas a ponto de cruz

Comi o pão que a terra

Ofereceu assim como

O outro que o diabo amassou

Dancei descalça sobre os

Sonhos verdes que te quero

Verdes amadureci os laços

Que me ensinaste a lançar

Ao rio numa curva apenas

Desenhada pelos teus

Olhos de amêndoa

Aqui me escondi

Quando o vento ameaçou

A minha loucura dourada

E aqueci o corpo nu

Na lareira dos teus quadros.

 

Agora esta casa

que me tem cativa

já não quer que eu viva

porque nela não vives.