domingo, 25 de fevereiro de 2018




25 de Fevereiro de 2003

não sei se estava sol ou chuva
se era frio ou quente
lembro só
das calças que vestia
do lenço indiano
da música que ouvi
do cigarro que fumei.

sei que indicara o teu fim
que o teu corpo se desfigurava
e que não quererias continuar
em vida
mas sei que a notícia
me bateu como se fora novidade
soube que nada mais iria
ser como antes
soube que a tua falta
me seria fatal
PAI

agora que já o coração não dói
que as lágrimas secaram
que a saudade se esbateu
há um vazio inefável
uma mudez
um verso branco
que se impõem
ao calor da praia

há uma promessa de honra
a cumprir até ao meu
último suspiro
PAI

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018




a solidão
entranha-se de tal arte
nos mais escondidos
meandros da alma
que se sobressalta
ao mais leve
rumor de companhia

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018




se não houver uma pérola
no interior da casa
não me peçam que lá fique.




do passado ressurgem
gigantíssimos
mostrengos ainda que
já enterrados
a perturbar o sono
tranquilo das aves
a superfície do mar
rasga-se em pedaços
de sal queimando as
feridas que o tempo
nunca consegue
cerzir

é a altura de procurar
uma planície onde
sossegue o coração cansado

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018




está ocupado o meu
fevereiro. não tenho lugar
para mais vazio
e muito menos
para uma lágrima gelada.